Naquela hora, ele era apenas um menino num sofá. Era 2 de novembro de 2001 e lá estava sentado Daniel Radcliffe, um garoto de 12 anos de idade de grandes olhos e absurdamente educado, conversando empolgado sobre seu papel de estrela como o menino mago principal em 'Harry Potter e a Pedra Filosofal’ (2001). Aquele filme, é claro, representou o primeiro passo em uma franquia arrasa-quarteirão baseada nos livros escritos por J.K. Rowling.
“As coisas ainda não têm sido tão intimidantes”, disse Radcliffe durante uma conversa em uma imponente sala – bem ao estilo de Hogwarts – em Knebworth, uma enorme mansão do século 15, a mais ou menos uma hora de Londres. “Tem sido diferente, é óbvio, da minha antiga vida, mas é tão divertida quanto, se não for ainda mais. E a razão principal que não torna as coisas intimidantes é porque todo mundo no set é legal e prestativo, o elenco e a equipe e (o diretor) Chris Columbus. Todos realmente me ajudaram a levar uma vida normal”.
“Meus pais, principalmente, têm me ajudado muito”, ele complementou. “Eles quiseram ter certeza de que eu mantenha meus pés no chão, o que eu acho que eu teria feito de qualquer maneira. Mas eles têm sido incríveis”.
Em 2001, Rowling havia anunciado que tinha planos para sete aventuras de Harry Potter, e a Warner Bros. deixou extremamente claro que enquanto o público aparecesse para assistir às adaptações para o cinema, o estúdio iria continuar produzindo mais, possivelmente ao ritmo de um filme por ano. Na época, entretanto, Radcliffe não tinha tanta certeza se ele iria interpretar Harry por toda essa jornada.
“Acho que, de uma certa maneira, minha vida iria se tornar quase tão épica quanto a de Harry”, ele disse. "Eu vou ter 18 ou 19 anos e já terei feito tudo isso, o que será uma conquista e tanto. Mas não acho que isso vai acontecer. Não acredito que vou participar de todos eles. Provavelmente vou ficar muito sardento, muito alto, vou encolher ou qualquer coisa parecida.
Então eu vou fazer um filme de cada vez, e apenas aproveitar".
No fim das contas, Radcliffe interpretou Harry em todos os oito filmes, com 'Harry Potter e as Relíquias da Morte, Parte 2’ programado para lançamento em 15 de julho. No processo, ele acumulou uma fortuna, tornou-se uma estrela internacional e desafiou a si mesmo com papéis em outros filmes, na televisão e no palco. Mesmo assim, nem por um segundo perdeu de vista o ciclo do personagem de garoto a homem, e de bruxo em treinamento a uma força a ser reconhecida na luta contra Lord Voldemort (Ralph Fiennes).
Em uma conversa em 2005, quando estava promovendo 'Harry Potter e o Cálice de Fogo’, Radcliffe descreveu Harry como um adolescente cheio de raiva, movido pela frustração, isolamento e pelos hormônios em fúria. Pessoas-chave haviam ido embora, incluindo o seu mentor, o Professor Lupin (David Thewlis), e outras estavam dando nos seus nervos, principalmente seus amigos mais íntimos, Hermione (Emma Watson) e Rony (Rupert Grint). Até mesmo Dumbledore (Michael Gambon), sua figura paterna e mais ferrenho protetor, estava aparentemente não sendo de ajuda alguma.Dai em diante vieram mais estrelados num total de 8.
Radcliffe vai fazer 22 anos no dia 23 de julho. 'The Woman in Black’, suspense arrepiante no qual ele divide o estrelato com Ciaran Hinds e Janet McTeer, será lançado no ano que vem, e ele está atualmente estrelando um 'revival’ na Broadway do clássico musical de Frank Loesser, 'How to Succeed in Business without Really Trying’.
Quando perguntado sobre o que levaria com ele, como ator e como pessoa, dos seus anos como Harry Potter, o jovem ator para e reflete por um momento.
Ainda absurdamente educado e falando com empolgação, muito parecido com aquele menino no sofá, uma década atrás, Radcliffe tenta resumir tudo em algumas poucas palavras.
“Como você diz, são 10 anos”, diz ele. “É tudo. Eu nunca vou conseguir assistir a uma cena de qualquer um desses filmes sem imediatamente associá-la à minha lembrança sobre aquele dia no set ou à memória sobre o que estava acontecendo na minha vida. Estou levando comigo uma gama de experiências, que atores que estão em escolas de teatro matariam para ter, em termos das pessoas com as quais eu pude trabalhar, assistir e aprender”.
“E vou embora, mais importante, com o amor pelo cinema, ou pelos sets de cinema, e pelo mais incrível grupo de amigos que qualquer pessoa poderia desejar”, conclui. “Não estou falando apenas sobre o elenco. Muitos de meus melhores amigos estão na equipe e você sabe que essas são pessoas que vou levar comigo para sempre”.
“E eu me sinto com muita, muita sorte”.
(Ian Spelling é jornalista freelance sediado em Nova York.) The New York Times News Service/Syndicate - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times._NYT_

