O Poder Destrutivo das Drogas

O primeiro passo...



Existem várias dificuldades no tratamento da dependência química, entre elas o preconceito, a vergonha e a falta de informação. Porém a principal delas é a negação do fato de se estar doente. Uma pessoa que descobre estar com uma doença grave, procura rapidamente um médico para o melhor tratamento, enquanto um dependente químico tende a negar o fato de não conseguir mais ficar longe das drogas. Embora existam vários sinais que indiquem o consumo de drogas, o dependente costuma negar de forma contundente o uso de qualquer substância ilegal, o que dificulta uma ação por parte dos familiares num estágio inicial de consumo. Os que percebem, vão se tornando incovenientes e começam a ser manipulados e enganados. Eu me tornei um excelente mentiroso. Não tem como sair de casa dizendo para alguém da sua família que você está indo usar drogas e vai voltar dentro de algumas horas. As drogas e as mentiras andam sempre juntas. Outro mito muito comum relacionado ao consumo de drogas, principalmente a maconha, é o consumo social. Eu consumi cocaína socialmente durante muitos anos, usava só nos finais de semana, nas festas, fiquei vários períodos em abstinência, sempre achando que tinha o total controle sobre o que eu estava fazendo. Essa é uma sensação muito perigosa e um engano comum a todo usuário, de todas as drogas. Bastou uma situação em que eu estava um pouco mais deprimido, para que eu perdesse totalmente o controle, e uma droga que eu já conhecia e achava que dominava a mais de 12 anos, me derrubou rapidamente. A partir de Julho do ano passado, ela passou a me controlar completamente. Parei de trabalhar, mentia para meus pais, para minha esposa, atrasava as contas de casa e só pensava em me drogar. Este ritmo só foi interrompido após a minha internação em dezembro. Hoje, depois de 47 dias de internação em regime integral, onde se passa 24h na clínica, 30 dias em regime de clínica dia, onde se passa o dia na clínica e a noite em casa, 20 dias em regime de clínica turno, onde se fica na clínica somente no período da manhã, estou muito melhor. Me vejo de uma forma totalmente nova. Entendo que os problemas não deixarão de existir, e que terei de enfrentá-los, porém de uma forma diferente, com lucidez e serenidade. Também fui convidado a ingressar no corpo de voluntários da clínica, algo que me deixou muito satisfeito, pois nem todos os são. Hoje, procuro passar para pessoas que, como eu, tenham algum tipo de dependência, que é possível mudar. Basta dar o primeiro passo, com humildade, e saber que a nossa luta não acaba nunca, pois para a nossa doença existe o respeito e a lembrança do passado e não uma cura definitiva.